Foto: Scot Consultoria
Sidnei Maschio: Alex faz tempo que o consumidor está sumido do mercado por conta do desarranjo na economia do país. Mesmo assim, podemos acreditar que o consumidor vai gastar mais com a chegada do dia das mães?
Alex Lopes: Sidnei, essa é nossa expectativa. Embora tenhamos algumas decepções em função de todo cenário macro econômico, acreditamos que agora seja um período que tenha uma melhora no consumo e no escoamento, ajudando toda a cadeia produtiva da carne.
Sidnei Maschio: Como foi o comportamento dos preços da carne no atacado nos últimos sete dias?
Alex Lopes: Tivemos mais uma alta no preço da carne no atacado, são duas semanas seguidas de valorização. Apesar da incerteza quando ao cenário de consumo das próximas semanas, os frigoríficos têm apostado em um cenário um pouco mais interessante e aumentaram o preço da carne.
Sidnei Maschio: Nas últimas semanas o número de boiadas terminadas aumentou um pouco e o frigorífico até conseguiu aumentar um pouco as escalas de abates. Mas se o volume produzido de carne está aumentando, como eles estão conseguindo subir o preço assim mesmo? É otimismo?
Alex Lopes: É um pouco de otimismo sim Sidney. Mas temos que considerar que, algumas semanas atrás, tínhamos um estoque de carne um pouco mais enxuto, depois de todos aqueles acontecimentos do final de março o pessoal começou a endurecer a oferta dos animais e dificultar um pouco a entrega para o frigorífico.
Naturalmente isso gerou uma redução dos estoques das indústrias e elas tiveram que pagar um pouco mais para conseguir reabastecer os estoques. Então, o que aconteceu agora não foi, propriamente dito, um alongamento das escalas, foi uma recomposição de estoques. E as indústrias animadas com isso, principalmente com a chegada do dia das Mães, viram um cenário mais propício para venda de carne e acabaram tentando repassar isso para o consumidor e para o varejo.
Sidnei Maschio: Na semana que vem não temo mais datas comemorativas e também já entramos no começo da segunda quinzena do mês. O que deve acontecer com a demanda e consumo de carne daqui para frente?
Alex Lopes: Infelizmente não temos como esperar outro cenário a não ser uma redução no consumo de carne. Sazonalmente isso acontece, mesmo em anos que temos um cenário econômico mais favorável do que o desse ano. É natural que a população se descapitalize e perca um pouco do poder de compra na segunda quinzena do mês. Somando o cenário vigente da economia com os gastos a mais dos dias das mães, não podemos esperar um cenário diferente do que o da diminuição do consumo de carne.
Sidnei Maschio: Por enquanto o mercado do boi gordo está mostrando uma firmeza que ele normalmente não tem nessa época do ano. Porque, Alex?
Alex Lopes: A grande questão vem do atraso para a entrada da seca. Temos várias regiões no Brasil central, e até mesmo em São Paulo, onde os pecuaristas ainda têm condições favoráveis de pasto. Não estamos em um período frio e seco típico de maio, embora o frio tenha começado a chegar, ainda não houve um prolongamento que pudesse prejudicar as pastagens, então o pecuarista com um bom pasto e em uma situação de incerteza como essa, tenta negociar preços melhores na arroba e começa a segurar o animal na fazenda e isso gera uma dificuldade maior para o frigorífico comprar matéria prima e, naturalmente, essas condições mantem o mercado mais firme.
Só não há altas porque a situação de consumo não propicia o aumento da demanda por matéria prima, então, naturalmente, temos um mercado sustentado. A partir do momento que o período de seca chegar, teremos, provavelmente, aquele período sazonal de quedas de preço, que é a transição entre safra e entressafra.
Sidnei Maschio: Daqui para frente, Alex, qual deve ser a estratégia do pecuarista que tem gado pronto para vender na fazenda?
Alex Lopes: Sidnei, percebendo esse período que estamos entrando agora e a proximidade com a época de seca, não temos como esperar outro cenário a não ser de queda de preço.
Essa informação não é para gerar pessimismo e sim planejamento. Quem se planeja antecipa a entrega do animal terminado para fugir desse período sazonal de queda de preço. Então para o produtor que tem animal terminado na fazenda é importante, considerando o ano de 2017 e toda a conjuntura que temos de risco no mercado do boi, sempre que tiver oportunidade, realizar a venda do animal e entregá-lo para o frigorífico. Temos que lembrar que além do risco de mercado, a partir do momento que o pecuarista mantém esse animal na fazenda no período de seca, ele tem uma agregação maior de custos e os desembolsos aumentam.
Sidnei Maschio: Alex, pensando em reposição, qual a conta que o invernista tem que fazer pensando no seu investimento para a próxima safra?
Alex Lopes: O pecuarista está entrando agora em um período de relação de troca muito mais interessante do que nos anos de 2015 e 2016, que foram os anos de maiores preços para o bezerro, naturalmente o pecuarista enfrentou um descolamento da relação de troca, ficou mais difícil para ele repor o rebanho. Hoje já estamos em um cenário muito mais ameno de relação de troca. O recriador/invernista já consegue repor mais facilmente seu rebanho. Nos anos de 2017 e 2018, que são bons para esses pecuaristas, quanto mais eles puderem fazer trocas e encurtar o ciclo para participar o máximo possível da relação de troca, mais fácil vai ser para ele fechar a conta lá na frente vendendo boi gordo.
Essa é a máxima da pecuária, não só referente aos momentos de melhora da relação de troca, mas também durante todo o ciclo da pecuária. Quanto mais você encurtar o tempo de compra e de venda dos animais, mais próximo está o momento de compra e venda novamente, mais próximo a situação de mercado está e menores são as chances de você pegar uma situação de virada brusca e ter uma maior dificuldade de liquidar um estoque caro, que é a situação que estamos passando agora.
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